O Presidente angolano rejeitou hoje ter dado um “mau exemplo” com a deslocação à Namíbia para a investidura do seu homólogo, Hage Geingob, apesar de Angola ter fechado fronteiras, sublinhando que a lei contempla excepções. João Lourenço não sabe que não basta ser sério, tal como desconhece que um líder não é o que manda mas, isso sim, o que dá o exemplo.
O chefe do executivo assinou, na quarta-feira, um decreto que contempla medidas excepcionais para evitar a propagação de Covid-19, incluindo o fecho das fronteiras aéreas, marítimas e terrestres à circulação de passageiros, desde as 00:00 de 20 de Março por, pelo menos, 15 dias.
“A consciência diz-me que não violei nenhuma norma fundamental e não dei um mau exemplo aos cidadãos angolanos”, disse João Lourenço à televisão do MPLA, a TPA, reagindo a críticas contra o facto de o presidente ter viajado até à Namíbia um dia depois de entrar em vigor a suspensão das fronteiras.
João Lourenço lembrou que o decreto presidencial abre “algumas excepções” que incluem “circunstâncias extraordinárias” que podem levar entidades do Estado a cumprir missões no exterior. Quem diria? Que imperiosa excepção poderia o país ter do que a ida à tomada de posse do seu homólogo?
Entre as excepções estão também os voos autorizados pelo governo para transportar angolanos que queriam regressar ao país e cidadãos portugueses que queriam ir para Portugal.
“Autorizámos a entrada de cidadãos angolanos que se encontravam em países de risco, em Lisboa e no Porto por serem nacionais e tinham bilhete de regresso praticamente em cima da altura em que saiu o decreto, sabendo que corríamos o risco de entre eles haver um outro infectado”, afirmou João Lourenço, metendo tudo no mesmo saco, confundindo a árvore com a floresta e mostrando, mais uma vez, que se “haver” necessidade provará que “a manha” e o “amanhã” são a mesma coisa…
No âmbito das excepções foram também autorizados voos de algumas companhias petrolíferas e de repatriamento de cidadãos portugueses.
“Deixámos que aviões de países de risco entrassem no nosso espaço no quadro de uma missão humanitária que está prevista no decreto”, frisou João Lourenço, sacudindo as consequências de ter dado um mau exemplo que, aliás, só espanta quem não conhece o ADN do MPLA e dos seus dirigentes que, recorde-se, até dizem que viram roubar, que ajudaram a roubar, que beneficiaram dos roubos mas que… não são ladrões.
Sobre a deslocação à Namíbia, João Lourenço considerou que não se trata de um país de alto risco e sublinhou que “tiveram o bom senso de alterar” a cerimónia inicial, que estava prevista para um estádio, coincidindo com o 30 º aniversário da independência do país, acabando por ser realizada no Palácio Presidencial onde João Lourenço ficou apenas 3 horas. Três curtas horas…
Do alto do seu eruditismo, João Lourenço assinalou que as relações entre os dois países, “mais do que de amizade são de irmandade”, e que outros vizinhos da Namíbia como o Zimbabué ou o Botsuana estiveram também presentes. E se os outros estiveram…
“Entendemos que devíamos ter em conta um ponto de equilíbrio: por um lado respeitar as medidas que nos próprios definimos, por outro, respeitar e honrar esses laços de amizade e irmandade”, afirmou, acrescentando: “temos sentido de responsabilidade e sentido de Estado”.
Aqui é que João Lourenço se engana e, novamente, mostrou que para ele o fundo do corredor e o corredor de fundo são a mesma coisa. Isto para além de desconhecer que elogio em boca própria é vitupério. Ou seja, é insulto; injúria; ultraje ou acção vergonhosa, vileza, infâmia, ignomínia.
João Lourenço considerou ainda que as críticas à sua deslocação demonstram que “os cidadãos angolanos têm liberdade para se expressar” e exercem o seu “direito de opinarem se agiu bem ou mal”. Adorável raciocínio. Nem o deputado João Pinto diria melhor. Será que se mantém, apesar do Covid-19, o concurso nacional de anedotas?